Os mistérios da floresta vêm sendo estudados há centenas de anos por
pesquisadores, estudiosos, mas de longe, muito longe, estão difíceis
de serem decifrados seus enigmas. Entre eles está o panema, cujo
sintoma está mais para uma maldição na vida de seringueiros que caçam e
pescam para alimentar as famílias. Panema é uma palavra de origem tupi
para coisa ruim. Os sintomas são falta de ânimo, azar, má pontaria,
cansaço, preguiça. Para evitar o panema o seringueiro deve tomar uma
série de cuidados.
Para evitar que um caçador pegue o
terrível panema, as mulheres não podem pegar nas armas de caça nem
varrer a casa, quando o caçador vai sair para caçar. Quando estão
grávidas ou menstruadas são tidas também como panema. Todos os
preconceitos se originam do mito de que a caça é uma atividade
masculina. Mulher pescar menstruada nem pensar. Dizem que quando pescam
menstruadas atraem o boto que fica rodeando o barco e algumas vezes
chegando a alagá-lo.
Muitos caçadores entram na mata
imitando o animal que querem caçar e para tanto usam técnicas especiais
para que não sejam percebidos por suas presas. Eles sabem que estão
sujeitos a vários ataques de animais ferozes na forma de acidentes
naturais e também na forma de ataques mágicos. Quando o caçador retorna
para casa com o animal que matou para alimentar a família, é preciso
todo um tratamento especial na transformação da carne em comida. Caso o
animal seja tratado por uma mulher grávida ou menstruada, o caçador
pega o panema. O tratamento desse problema é mais difícil do que se
imagina.
Muitos seringueiros com panema colocam o sumo
de uma folha chamada churrô nos olhos para enxergar melhor na mata e
acertar a caça. O cipó do churrô também pode ser usado para fazer
defumação, usando o tipi (planta) e pêlos de porco, veado, anta e
outras caças. Misturam tudo, colocam pimenta e fazem uma fogueira. O
caçador, seus instrumentos e o cão de caça permanecem por longo tempo na
fumaça. Além da defumação, para tirar panema, usam o pião roxo. Com
ele a mulher bate no homem, proporcionando-lhe mais sorte na caçada.
O
homem da mata também usa a urtiga (folha) e a formiga tucandeira para
acabar com o panema. A urtiga é aplicada nos braços dos homens antes de
sair para a caçada. No caso da tucandeira, a formiga serve para um
teste. Se o caçador que for picado não sonhar com o sucesso na caçada
seguinte está com panema.
Existe ainda o tratamento do
panema com tiros. O caçador ao encontrar na mata uma espécie de
palmeira chamada paxiúba, deve observar se ela está barriguda, isto é,
esteticamente ela apresenta uma saliência muito parecida com uma mulher
grávida. Ele deve dar um tiro na barriga da palmeira. Esse método,
entretanto, tem conseqüência: se o responsável pelo panema do caçador
for uma mulher grávida, com certeza ela sofrerá aborto. É preciso muito
cuidado.
Índios da Amazônia também reconhecem o
panema. Para acabar com o problema os indígenas usam a secreção de uma
rã conhecida por eles como sapo Kambô, considerado um animal mágico da
floresta. Além do panema, a secreção do Kambô é utilizada também no
combate à preguiça, mal-estar, úlceras, tuberculose e outras doenças.
Pelo
sim, pelo não, panema não existe somente na floresta, está presente
também nas selvas de pedra. Só que o tratamento, no considerado mundo
civilizado, é outro, bem diferente.
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