quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A iniciação e a impermanência de todas as coisas...

Posted by adi em agosto 19, 2011

Ultimamente anda difícil dizer alguma novidade sobre espiritualidade, há tantas coisas boas e bem escritas pela internet, além de que, praticamente tudo já foi dito pelos grandes mestres do passado. Apesar disso, entendo que a verdade é única, o que muda é a maneira de contarmos essa mesma verdade, e o que importa é que a verdade tem que se fazer em nós mesmos, tem que se tornar real e viva dentro de nossos corações, e isso pra mim é renovação.
O budismo sempre deu muita ênfase sobre a impermanência de todas as coisas. Para o budismo a natureza essencial da própria existência é mudança, pois tudo está em movimento e em constante fluxo, nada é permanente. Queremos que nossas sensações boas e de felicidade sejam duradouras, então nos apegamos às coisas, pessoas e acontecimentos que nos dão a sensação de prazer. Mas o apego leva ao sofrimento, por isso impermanência e sofrimento são inseparáveis, porque impermanência resulta em mudança, decadência e perda.
Nós vemos essas mudanças nos ciclos da natureza e de renovação da vida, ou seja, nas estações do ano e nos ciclos da colheita, em toda parte é possível ver que existe essa concepção de final e de começo de um novo período ou fase, assim como a morte e nascimento, tudo nasce, tem seu apogeu, entra em decadência e morre, nesse sentido, verificamos que a vida se renova continuamente.
Em nossa experiência da vida há continuamente essas pequenas mudanças e transformações, mesmo que muitas vezes não a aceitemos e por isso sofremos, o que da mesma forma não impede que as coisas aconteçam como tem que ser.

Espiritualmente também mudamos, e essas mudanças dos limitados estados de consciência para uma ampliação da mesma se diz iniciação. E me refiro a iniciação em sentido real, que se dá como uma experiência verdadeira e que acontece na psique do iniciado e que de fato transforma o indivíduo, e não sobre as implicações de iniciações pagas ou formais, encenadas num ritual, ou praticadas nas salas de lojas ou escolas místicas, essas na maioria das vezes, não passam de títulos vazios.
No meio espiritualista e no estudo e prática de ocultismo, é muito comum dar ênfase à iniciação, embora seja uma palavra que envolve uma certa aura de mistério, cujos iniciados são designados como seres especiais e como que colocados num pedestal, na verdade, a verdadeira iniciação tem um significado muito diferente do que imaginamos e também se trata de um evento mais simples do que de fato supomos.
Iniciação envolve transformação interior e pessoal, dissolução de uma forma de ser e perceber a vida e uma nova configuração para uma maneira mais ampla de percepção, diz respeito a transformação da nossa consciência em maior liberdade, e pra que isso ocorra, é como se envolvesse uma morte de um estado anterior de ser e um renascimento numa nova maneira de ser. Não envolve aprendizado intelectual propriamente dito.
Transformação, renovação, mudança, morte e nascimento, essas são palavras que definem iniciação. A cada iniciação é um processo de transformação, um novo impulso é liberado, uma força que move o iniciado adiante a enfrentar seus próprios temores com confiança. É sempre sangue novo renovando a vida.

O indivíduo tem que utilizar suas novas ferramentas para transformar a si-próprio. É também e principalmente um processo de desconstrução dos conceitos e das teorias ou crenças que já não servem mais, e por isso limitam e prendem o indivíduo. Até mesmo as velhas verdades estão vazias atualmente, e se tornaram apenas repetições e cópias do que um dia foi vivo, e quando as velhas concepções da verdade já não surtem mais o efeito de vivificação, estas precisam ser descartadas e renovadas, pois se não for assim, se tornam amarras e limitações.
A cada iniciação, no contato com a luz é como ultrapassar um limite e ir além do véu de pensamentos e crenças que impedem a pessoa do conhecimento do real. A cada contato com a luz arquetípica é como uma destruição e liberação das amarras. Mas essa mudança não acontece imediatamente após a experiência mística, assim, como também a evolução não dá saltos pulando etapas. A experiência mística, ou contato com a luz vai atuar liberando alguns (não todos de uma vez) bloqueios e conceitos que distorcem a realidade, e então o iniciado tem que assimilar e integrar esses conteúdos na consciência, tem que participar totalmente e fazer essa nova visão ou essa experiência se tornar real em sua vivência diária, no convívio e contato com o mundo.
Se o indivíduo não participar dessa transformação e não se renovar, é como diz o ditado de “vinho novo em odres velhos”. Essa é a dádiva que se deve ser agora, de novo assimilada, transformando o iniciado.

Porque a força se esvai e a iluminação não dura, nem poderia durar, mas é o suficiente para liberar as energias e os conflitos à serem assimilados e compreendidos, é como mudar o padrão da consciência de percepção e atuação no mundo, e é um processo totalmente natural da própria existência e da vida, assim como a morte e o nascimento. É sempre um desapegar, deixar ir, soltar o velho e se abrir ao novo, é se liberar ao próprio fluxo sem querer controlar ou manipular.
Não importa a prática que o indivíduo realiza, as práticas são meios de se alcançar esse estado de percepção ou de consciência além do normal e ordinário, ou seja, estados alterados de consciência, e conseguindo isso, o mais importante é realizar em si mesmo essa expansão em atuação no mundo.
E então depois de tudo assimilado e renovado, um novo processo de transformação recomeça, renovando tudo outra vez, só que com maior amplitude. É a mesma existência, o mesmo mundo, a mesma vida, mas vivida, sentida e vista de forma diferente.
Extraído de Anoitan

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